Da série: FICÇÃO PLAUSÍVEL
XVI
Toca o celular. Duas e quinze da tarde
“Alô?”
“CORNO! TUA MULHER TÁ FODENDO À PAMPA AGORA E TU TÁ NO CELULAR!!!!”
Ele xingava de volta:
“FÉLADAPUTA, TEM MAIS O QUE FAZER NÃO, SEU VIADO?!?!?!?”
A ligação caiu.
Ligou pro número que apareceu no celular: era um orelhão.
No outro dia, a mesma coisa. E de orelhão.
Já tava ficando puto com aquilo. Uma semana que nego tava ligando pra ele.. Sempre a mesma voz. Sempre na mesma hora. E o discurso não mudava:
“FALA CHIFRUDO! TOU VENDO TUA MULHER TE DAR BALÃO, OTÁRIO!”
A mulher chegava em casa, ele perguntava se tava tudo bem, como é que foi o dia, e coisa e tal, e ela:
“Tudo bom, deu um pobreminha lá no trabalho, coisa boba, só uma porta que não tava fechando direito, e depois fui fazer a prova de sociologia. Um saco, não sei pra que estudar esta merda! Não vou usar pra nada!”. Estudava à beça, a coitada. Fazia faculdade de comunicação à noite.
No outro dia, a mesma inana:
“FALA, MANSO! TOU NA PORTA DO MOTEL VENDO TUA MULHER ENTRAR COM DOIS PLAYBOYS!”
A mesma voz, de orelhão de novo. Assim não dava! Falou com o Nequinho, o bicheiro da esquina, e comprou um ferro. Um Rossi 32. Cinco tiros, meio fodidinho, mas com as balas no lugar. Foi pra casa esperar o telefonema, que o cara era pontual. Duas e quinze:
“OTÁRIO! TU AÍ ATENDENDO TELEFONE, E TUA PATROA ENTRANDO NO MOTEL!”
Dia seguinte...
Deu meio-dia ele baixou no boteco em frente do orelhão, do lado dum motel poeirinha no Centro, pras bandas da Tiradentes. Uma da tarde pediu dois bolinhos de bacalhau e uma coca zero. Ficou lendo jornal pra passar o tempo. Duas horas, escondido atrás do caderno de esportes ele vê a mulher passar de uniforme e entrar no motel. Quinze minutos depois, chega um cara no orelhão e o celular toca. Dos cinco tiros, um pipocou. Munição velha, sabe como é...
A polícia chegou em menos de quarenta e cinco minutos. Na delegacia ele alegou legítima defesa da honra:
“Veja bem, Doutor, o senhor que é um homem de instrução vai entender: só por causa de que a mulher da gente trabalha de recepcionista no motel não quer dizer que nós é corno, né não, Doutor?”
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