segunda-feira, outubro 08, 2007

Da série: FICÇÃO PLAUSÍVEL

XVI

Toca o celular. Duas e quinze da tarde

“Alô?”

CORNO! TUA MULHER TÁ FODENDO À PAMPA AGORA E TU TÁ NO CELULAR!!!!”

Ele xingava de volta:

“FÉLADAPUTA, TEM MAIS O QUE FAZER NÃO, SEU VIADO?!?!?!?”

A ligação caiu.

Ligou pro número que apareceu no celular: era um orelhão.

No outro dia, a mesma coisa. E de orelhão.

Já tava ficando puto com aquilo. Uma semana que nego tava ligando pra ele.. Sempre a mesma voz. Sempre na mesma hora. E o discurso não mudava:

FALA CHIFRUDO! TOU VENDO TUA MULHER TE DAR BALÃO, OTÁRIO!”

A mulher chegava em casa, ele perguntava se tava tudo bem, como é que foi o dia, e coisa e tal, e ela:

“Tudo bom, deu um pobreminha lá no trabalho, coisa boba, só uma porta que não tava fechando direito, e depois fui fazer a prova de sociologia. Um saco, não sei pra que estudar esta merda! Não vou usar pra nada!”. Estudava à beça, a coitada. Fazia faculdade de comunicação à noite.

No outro dia, a mesma inana:

FALA, MANSO! TOU NA PORTA DO MOTEL VENDO TUA MULHER ENTRAR COM DOIS PLAYBOYS!”

A mesma voz, de orelhão de novo. Assim não dava! Falou com o Nequinho, o bicheiro da esquina, e comprou um ferro. Um Rossi 32. Cinco tiros, meio fodidinho, mas com as balas no lugar. Foi pra casa esperar o telefonema, que o cara era pontual. Duas e quinze:

“OTÁRIO! TU AÍ ATENDENDO TELEFONE, E TUA PATROA ENTRANDO NO MOTEL!”

Dia seguinte...

Deu meio-dia ele baixou no boteco em frente do orelhão, do lado dum motel poeirinha no Centro, pras bandas da Tiradentes. Uma da tarde pediu dois bolinhos de bacalhau e uma coca zero. Ficou lendo jornal pra passar o tempo. Duas horas, escondido atrás do caderno de esportes ele vê a mulher passar de uniforme e entrar no motel. Quinze minutos depois, chega um cara no orelhão e o celular toca. Dos cinco tiros, um pipocou. Munição velha, sabe como é...

A polícia chegou em menos de quarenta e cinco minutos. Na delegacia ele alegou legítima defesa da honra:

“Veja bem, Doutor, o senhor que é um homem de instrução vai entender: só por causa de que a mulher da gente trabalha de recepcionista no motel não quer dizer que nós é corno, né não, Doutor?”

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