segunda-feira, setembro 04, 2006

Da série: FICÇÃO PLAUSÍVEL

VIII

Era um desses sujeitos pacatos e sem grandes atrativos, que vivem em paz sua vidinha morna. Contabilista, Kardecista, sub-síndico do condomínio Solar dos Ipês, levemente racista e homofóbico e membro da venerável Ordem da Rosa Cruz. Queria mesmo é ser da Maçonaria, mas nunca pintou um convite.

Um dia, voltando do Centro Espírita Luz e Caridade, foi colhido em meio a uma malta rubro negra, que voltava nas asas de uma vitória sobre o seu amado tricolor das Laranjeiras. Encolheu-se bem no banco do ônibus e tentou não dar confiança. Nem olhava para ninguém enquanto a turba entoava o seguinte estribilho: “Todo viado que eu conheço é tricolor”.

O caldo derramou quando um negrão três por quatro lhe perguntou: “por causo de quê que o distinto tá olhando?” e ele, escolhendo as palavras como quem escolhe a aliança:

“Infelizmente, cidadão, não comungamos das mesmas preferências desportivas.”

Pois foi o que bastou para o negão se levantar e anunciar:
“O distinto aqui, além de comunista é vascaíno!”

Imediatamente um Paraíba propôs:

“A gente vamos matar ele!”

Tomou tanta porrada que não escapou nem a alma. Quer dizer, a alma até que escapou, mas chegou no “Nosso Lar” bastante amarrotada.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"Nosso Lar" foi ótimo hahahahaha
Como sempre, leitura agradável!
Beijos, querido!

9/04/2006 9:55 PM  
Anonymous Anônimo said...

Sua descrição do homem médio está irretocável. Beijos!

9/05/2006 8:46 PM  

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