terça-feira, agosto 22, 2006

Difícil é o Nome

Tem uma rapaziada aí me perguntando que raio de nome de blog é esse. Vou explicar:

Nos idos da década de noventa, eu era mais um estudante de História em uma famosa universidade, numa terra de índio, onde Nietzsche é herói, joelho é italiano e pastel é sorriso. Até hoje não me acostumei com essas idiossincrasias da província.

Pois bem. Como sói acontecer em faculdades onde todo mundo é meio intelectual e meio de esquerda, existiam diversas facções de desocupados, todas se achando muito intelectuais e muito de esquerda, e achando os outros muito alienados e de direita. Isso, como você pode imaginar, e se não pode eu conto, gerava enormes e intermináveis discussões sobre como mudar o mundo, sobre o sexo dos anjos, sobre quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha, e outros assuntos da mesma relevância.

No meio dessa falta do que fazer generalizada, uma facção se destacava: os PISCs, sigla de Pessoas Sensíveis Inteligentes e Criativas, um pessoal nostálgico, sabe qual é? Daqueles que no fundo no fundo, queriam viver numa ditadura só pra tomar porrada da polícia , tirar onda de exilado político e de artista genial incompreendido. E esse povo tinha cada idéia, que puta que pariu, dava pra adubar o deserto do Saara, e ainda fertilizava Gobi, Atacama, Mojave e o semi-árido nordestino.

Pra você ver, vou contar só uma: certa feita, notando que o prédio da faculdade tinha sete conjuntos de colunas (pilotis), esse povo houve por bem arrecadar dinheiro, com banquinha e tudo, pra pintar cada uma das colunas com uma cor do arco-íris. A justificativa deles era humanizar o concreto. Pra mim, e pra grande maioria das pessoas que não precisa de gardenal diariamente, era pura babaquice, ou viadagem, ou muito tetra-hidro-canabinol nas idéias, ou tudo isso com dois ovos em cima. Não pintaram, mas também não devolveram dinheiro de nenhum contribuinte.

Mais ou menos por essa época, esses PSICs lançaram um jornaleco xerocado, cheio de literatice, onde, imediatamente, duas coisas me chamaram atenção. A primeira foi um texto panfletário, cheio de indignação esquerdista libertária comunista pra caralho contra o homem branco português colonizador feio bobo e cara-de-mamão. Até aí, era de se esperar. Mas o chute nos ovos veio com a seguinte passagem, abre aspas: No dia VINTE E UM DE ABRIL, o português pisou nesta nossa terra, fecha aspas.

PUTA QUE PARIU! Alunos de História! Tudo bem que esse negócio de ficar lembrando datas é chato, que historiador não é calendário e tal, mas, porra, o filho das unhas que escreveu isso não teve nem o trabalho de descobrir que o Brasil foi descoberto oficialmente em VINTE E DOIS de abril! Vinte e um é Tiradentes, porra, não lembra que é feriado?!

Mas o que veio depois foi é que foi de arrancar os cabelos do saco. Um sujeito expeliu um poemelho, daqueles que você nota que o cara fez um puta esforço pra parecer que não fez esforço nenhum, que iniciava com a seguinte pérola, abre aspas: O que eu mais gosto em uma mulher são OS SEUS CLITÓRIS, fecha aspas. OPA! Os seus? Foi nesse ponte que eu pensei que fosse um erro de digitação, já que, por princípio, acredito na boa vontade. Mas não era. O desinformado menestrel passou o poema todo se referindo aos clitóris das mulheres. Eu juro que na hora eu fiquei com pena.Esse cara nunca deve ter visto um mulher pelada. Nem em revista sueca, que é o melhor Atlas de anatomia do mundo! Ou então, eu que não descobri os outros....

Conste nos autos que a tal publicação PSIC atendia pelo singelo e poético nome de “BORBOLETA NEGRA”.

Passada a pena, eu e um amigo, meu caro camarada Luck Luciano, o facínora da Amaral Peixoto, resolvemos sacanear, já que nosso lance era muito mais implicância do que política. Resolvemos, nós mesmos publicar outro jornal xerocado, onde a proposta editorial era sacanear a tudo e a todos , sem pena ou remorso.

Como já sabe uma famosa escola de samba aqui do Rio, difícil é o nome. Tentamos vários, e nenhum servia a nossos propósitos. Ou eram sérios demais, ou sérios de menos. Um dia, não sei quando nem onde, ouvimos uma música do ainda Jorge Ben, que tem um verso que diz, abre aspas de novo: ô mangangava da barriga amarela..., e outro que diz: toma cuidado com mangangá.

Achamos o nome! Sem sair da insetologia geral e comparada, achamos no dicionário: mangangava: s.m. Bras. Nome das abelhas sociais do gênero Bombus, de ferroada muito dolorida,responsável pela polinização de várias plantas, entre elas o maracujá. Durante esse processo, apresenta uma faixa abdominal, que tende a ficar amarelada pelo pólem. Também chamadas de mangangá ou mangangaba./ Brás. (NE) espécie de besouro grande que rói a madeira. Perfeito! Caiu como uma luva!

O nosso Mangangavamarela, juntinho assim mesmo, que a diagramação era muito ruim e precisava de espaço (eu era o diagramador) teve uma aceitação tão grande, que rapidamente surgiram outros, como o povo lá chamava, “documentos” do mesmo tipo, e número de cartas abertas pipocou naquele lugar! Todo mundo queria ser engraçadinho (nós também, mas, pô, olha o respeito, fomos pioneiros). Me lembro especificamente de dois: “Os Tibetanos contra China e o povo Mongol" (tinha um PSIC cujo apelido era China) e o "D.A. pra mim".

O Mangangavamarela durou alguns números, com uma tiragem oficial de R$ 5,00, ou seja: se a xerox aumentava, diminuía a tiragem. Não raro um ou outro vagabundo coçava o bolso e nos dava uma grana pra tirar mais xerox. Só pra não passar em branco, o Borboleta negra só teve mesmo aquela edição”.

Foi muito bacana, o pessoal gostava à beça. Mas o chato é que eu até hoje ao tenho nenhum exemplar do Mangangavamarela comigo. O Luck diz que também não tem, mas eu acho que ele está escondendo um monte, com medo que eu roube dele....

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Hahaahahahahhaa
Adorei!!!
Sempre agulhando os outros, essa é sua especialidade...
Beijos, querido!

8/22/2006 11:44 AM  
Anonymous Anônimo said...

Eu os chamo de PIMBAS - Pseudo Intelectual Metido a Besta e Associados.
Ah, eu tb estudei lá, no mesmo deserto recém inaugurado. Dizem que havia estupros por ali. Mas eu tava tranquila. Fazia Letras.
Fiquei preocupada quando li sobre Os Clitóris. Achei que era diferente e ia parecer na novela de Manoel Carlos.

8/24/2006 6:29 PM  
Blogger Nat said...

Palestino, fenomenal seu blog! Adorei Adorei!

8/24/2006 9:25 PM  

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