quinta-feira, julho 09, 2009

A roubada do carro furtado

Conhecem a máxima “a males que vem para o bem”? Em 99, 9 % das situações em que ela vem a nossa cabeça por situação qualquer que passamos, ela não só não nos trás conforto como deixa-nos fulo da vida. Quando tive meu carro furtado, um Santana prata ao qual já havia me afeiçoado apesar do kit gás, que bem podia ser considerado um kit bomba, de tanto defeito e explosão que dava, tentaram me consolar com essa maldita frase e suas congêneres:
_ “Pô cara, ele não tava dando defeito? Agora é a oportunidade para você comprar outro”.
_ “ Oha só, quando o coisa ruim fecha uma porta, Deus abre uma janela”.
Este tipo de otimismo deveria ser regulamentado por lei no sentido de coibi-lo, pois fere nosso direito de achar, em algum momento, nossa vida uma merda.
Mas sabe que eu ainda tirei algum proveito desse dia, e veja que era para ter sido um desastre completo pelas razões que faço questão de enumerar, além do óbvio furto do carro:
1) Era o dia do aniversário da minha filha mais velha e tínhamos ido a um restaurante de comida mineira comemorar, dali o plano era irmos a um parque de diversão. Melou tudo e a pobrezinha só conseguia repetir “_ Papai, o ladrão levou a minha lancheira”;
2) O torresmo estava uma droga;
3) Meu cartão de crédito não passou e tive que pagar com o de débito, afundado-me mais ainda no mar de lama do especial;
4) Uma coroa bebeu o último gole de licor de cereja na minha frente (acho que fiquei mais “p” da vida com isso do que com o furto do carro).
5) Fui na delegacia errada dar queixa;
6) O sistema informatizado na delegacia certa havia “caído” e tive que voltar no dia seguinte.
Sentiram a barra né?
No dia seguinte voltei à delegacia para dar parte, logo cedo, aproveitando uma carona da minha cunhada que trabalhava nos arredores. Chegando lá.... O sistema continuava “caído”. Sabem, deveria existir um viagra de computador, algo assim para ele dar 2 tetrabytes sem sair de cima, desta maneira jamais haveria um sistema “caído” novamente.
Voltei à noite. Aí começa, meus caros leitores, o proveito que tirei deste episódio que maculou um dia feliz, o dia que comemorávamos mais uma primavera da minha princesinha.
Cheguei e me dirigi à recepcionista (era uma delegacia legal, nas quais tem uma mocinha que faz a triagem). Anotou tudo e mandou que eu aguardasse. Sentei-me e notei ao meu lado um cavalheiro que reconheci da noite anterior, também vítima de furto, do outro lado do banco um sujeito com o pé enfaixado, a cara meio amarrotada, acompanhado de uma mulher e, andando de um lado para outro, um rapaz estilo zona sul, dos seus vinte e poucos anos, com aparência bastante agitada.
O rapaz estropiado não agüentou esperar e foi embora. Parecia ser briga de família. O outro agitadinho não parava de falar com a mocinha da recepção, informando que seu irmão havia lhe agredido, inclusive fornecendo o artigo do código criminal. Mais uma briga de família. Seguindo a ordem, o colega de furto, digo, que também teve o carro furtado foi o primeiro a entrar, blablablabla, cinqüenta minutos depois era vez do agitadinho. Para minha surpresa eu fui chamado. Sem questionar (quem questiona em delegacia são os policiais; vítima relata e acusado se defende como pode) entrei.
Fui recebido por um inspetor que educadamente mandou-me sentar e perguntou o que me trazia a delegacia. Tive ânsias de perguntar se eles vendiam coca-cola, mas minha mãe me deu juízo, e afinal eu precisava do BO.
Quando eu iniciava meu relato a mocinha da recepção entrou e disse ao inspetor:
_ O senhor vai atender o rapaz que esta esperando aí fora?
_ Vou porra nenhuma! Vem pra DP resolver briga de família! Toda semana é a mesma coisa. Isso dito aos berros da mesa que ficava a uns 3 metros da onde estava o rapaz.
_ Pois não seu Eduardo, continue.
_ Blábláblá, estava no restaurante mineira, blablablabla, aniversário da mais velha, blablablabla, saímos por voltas das 16:00 h, blábláblá, o carro sumiu, blábláblá. Entra novamente a mocinha da recepção.
_ Inspetor, eu notei que o rapaz é meio... Assim meio... Doidinho né, consegui o número da casa dele e falei com os pais, eles estão vindo pra cá. O senhor vai falar com ele?
_ Vou merda nenhuma, depois desse rapaz aqui vou lá fora tomar um café ele que fique por aí! Só me aparece maluco. Disse isso num tom um pouco mais alto do que o anterior.
Foi a deixa.
_ Aparece muita gente doida em delegacia né não inspetor?
Recostou-se na cadeira, jogou os braços sobre a cabeça e soltou.
_ Demais seu Eduardo, aparece cada um que o senhor não iria acreditar.
_ Como não ia inspetor, conta aí.
Descontraiu de vez.
_ Certa feita num plantão em que estávamos eu e o Cenourinha (o legume que apelidava o policial era outro, mas achei melhor mudar, questão de direitos autorais) entrou porta adentro da delegacia um negão do tamanho de um bonde, encarou a mim e ao Cenourinha com um olhar de doido e mandou na lata:
_ “Tem homem aqui para me dar porrada?”
_ Aí seu Eduardo, segurei logo no ferro que tava na cintura, porque aquele não dava pra encarar na mão não. Mas ossos do ofício né, perguntei ao cidadão:_ Por que você quer um homem pra te dar porrada?
_ “Eu explico, fica calmo, eu explico. Eu não vou reagir não, não vou bater em ninguém não, eu só quero tomar uma surra arrumada. E vou até pagar por isso”.
_ Os olhos de Cenourinha chegaram a saltar quando ouvi falar em ganhar um extra.
_ Vai pagar quanto? Perguntou o Cenourinha.
_ “Vou dar cem reais”!
_ Os olhos do Cenourinha murcharam seu Eduardo. Mas ele ainda fez uma contra-proposta:_ Olha só parceiro, por cem conto eu só te quebro um braço, agora se tu arrumar quinhentos conto eu quebro teus braços, tuas pernas, tua cabeça e ainda arranjo a ambulância pra te levar pro Azevedo Lima.
_ O negão deu meia volta e nunca mais voltou seu Eduardo.
Dei uma risadinha (a vontade era de gargalhar) pois achei conveniente ser educado e larguei de novo.
_ Deve ter mais casos, heim inspetor.
_ Um monte seu Eduardo. Certa feita me entra na DP um cidadão com um gato na mão, o bicho só mexia a pata de trás, o resto todo parado, o bicho todo esfolado, mas vivo. Mando o cara sentar e explicar o que havia acontecido com ele. O cara então começa:_ “Sabe o que é inspetor, esse gato aqui pulou meu muro”.
_ E eu lá seu Eduardo, com aquela cara de que que eu tenho haver com essa merda. E camarada continuou.
_ “Sabe o que é inspetor, o meu cachorro mordeu o bichinho todo. Olha como ele ficou.”
_ E eu pensando seu Eduardo, e daí, não sou veterinário. E continuou.
_ “Sabe o que é inspetor, levei o bichinho no veterinário para ver se dava jeito. O doutor disse que não tinha como salvar e mandou sacrificar. Mas me cobrou cem reais inspetor, e eu não tenho esse dinheiro”.
_ Aí eu não agüentei seu Eduardo, perguntei ao cidadão o que ele tinha ido fazer na delegacia. Sabe o que ele me respondeu seu Eduardo?
Balancei negativamente a cabeça.
­_ Disse assim:
_ “Sabe o que é inspetor, é que vocês da polícia são uns desalmados, todo mundo sabe. Eu pensei que o senhor podia dar um tiro no gatinho e acabar com o sofrimento dele”.
Gente, nesse momento eu descobri que tenho autocontrole, porque a vontade era de rachar o bico. Mas me contive.
_ E aí inspetor, o que o senhor disse.
_ Eu não disse nada seu Eduardo, saquei a barra de ferro que estava debaixo da mesa e dei umas porradas no FDP. Veja só, desalmados. Pode seu Eduardo?
_ Pode não inspetor.
Numa próxima conto os outros causos que o inspetor me confidenciou, por hoje é só pessoal.

CEVDM

2 Comments:

Blogger Adriano Comissoli said...

Lamento pelo carro, mas devo dizer que eu sem qualquer autocontrole rachei o bico de tanto rir!!

Totalmente excelente!!

7/24/2009 11:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

HUhuahuaahuhuaahuahuahu!!

2/06/2010 8:23 AM  

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