sábado, novembro 29, 2008

99 motivos para abandonar o magistério ou nem mesmo começar nele

Bom cambada, a partir deste texto estarei inaugurando a série, 99 motivos para abandonar o magistério ou nem mesmo começar nele. Fruto de reflexões de cerca de 13 anos ministrando esporros e ocasionalmente aulas, tais motivos espelham por um lado meu anseio de livrar futuras gerações da aberração que se tornou a arte marcial de lecionar, e por outro meu desejo incontido de mandar todos da educação a puta-que-pariu. Perguntariam meus estimados e desconhecidos leitores: ora, já que você tem tantos motivos, por que não abandonou de uma vez? Explico-me, em ordem numérica e decrescente de importância:
1. Tenho três filhos;
2. Dívidas intermináveis;
3. Mãe para sustentar;
4. Vícios caros (charutos e cachimbo);
5. A vã esperança de que um dia a educação vá melhorar.
Espero ter esclarecido as possíveis dúvidas em relação a minha teimosa permanência como regente de classe.

Motivo de número 1

Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que o motivo em questão é o número um somente pelo fato dele ser o primeiro que eu exponho aqui para vocês, e não pelo fato dele ser o número um em termos de importância em relação aos demais. Na verdade vocês podem abandonar, ou nem mesmo começar, a prática desumana do magistério por qualquer um dos motivos que irei expor, por uma associação destes, ou mesmo por todos e mais alguns (aliás, é por isso mesmo que são 99, de repente vocês pensam no centésimo).Dito isso...
Motivo de número 1: Você não pode espancar seus alunos! Nem mesmo um pouquinho.
Contrariando nossos instintos, aqueles mesmos que nos fizeram a espécie soberana (bom, não sei se soberana ou soberba, enfim, ambos levam ao mesmo buraco) da porra deste planetinha em vias de extinção, não podemos, sob nenhuma circunstância, bater nos nossos alunos. E olha que eles merecem. Vamos analisar alguns casos:
Caso de número um:
Aluno x é por nós interpelado. _ Fulano, por que você se atrasou?
_ Fessô (contração fonética característico da espécie Alumno Neanderthalensis decorrente de sua limitada capacidade intelectual – alguns autores preferem a teoria de que cada um tem um tempo próprio de aprendizagem, e que esta espécie teria mais chance de desenvolver suas capacidades cognitivas dentro do sistema de ciclos, hipótese que eu corroboro, já que acredito que no próximo ciclo geológico do planeta – qualquer-coisa-com-lítico no final, daqui a um milhão, milhão e meio de anos no máximo, essa espécie terá aprendido a falar sem babar), é nois! Deu preu chegar não,valeu. Acordei tardão.
_ Eu acordei cedo, você não pode fazer o mesmo? Redargüimos.
_ Pô, você (o pronome de tratamento senhor, ou senhora, foi abolido extra-oficialmente a mais de 20 anos por esta espécie) já é coroa, deve di durmi cedo!
Veja, o sangue ferve, o rosto ruboriza, a mão lateja, o suor escorre de nosso rosto, mas não podemos, por força de lei, bater nem um bocadinho no aluno x.
Caso de número dois:
_ Fulano, caramba! Já mandei você sentar e calar a boca mais de mil vezes. Você é surdo?
_ Não, mas bem que você podia ser mudo né fessó?
Nesse momento nós já demos até um passo a frente, o aluno chegou a pingar na cueca ou na calcinha, mas não podemos, repito, não podemos bater nele nem um pouquinho.
Observem que isso nos leva a uma situação de estresse, o qual não pode ser aliviado pelo mecanismo ancestral descrito por Darwin em suas analises como:

“Pleased to meet you hope you guessed my name, oh yeah.
But what's confusing you is just the nature of my game
(woo woo, who who). Just as every cop is a criminal and all the sinners saints as heads is tails.
Just call me Lucifer 'cause I'm in need of some restraint
(who who, who who).
So if you meet me.
Have some courtesy have some sympathy, and some taste
(woo woo).
Use all your well-learned politesse or I'll lay your soul to waste, um yeah
(woo woo, woo woo)”.

Em linhas gerais, quer dizer mais ou menos o seguinte. Não podemos liberar o simpático capiroto que existe dentro de nós para estrangular aqueles que colocam em risco nossa sobrevivência mental. Devemos nos colocar na postura do educador compreensivo, que entende as condições de vida do aluno, que sabe que por ele não ter família – ou mesmo tendo, ou por ter uma família desestruturada, ele pode e deve nos desrespeitar, xingar, cuspir e mesmo bater, que esta tudo certo.
Vejam, se isso não é motivo para largar o magistério, ou para nem mesmo iniciar nele...
Simpathy for the devil, yeah!


CEVDM

P.S.: Tinha dito ao senhor reverendíssimo editor Patrício que iria esperar meus colegas de blog postarem algo, mas não resisti. Mas agora esperarei meus camaradas postarem para continuar a pendurar os meus textos aqui.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

tem que largar mesmo!!!!!!!!!
hauahuahuah

11/30/2008 11:54 AM  
Anonymous Anônimo said...

Normalmente sou "elegante" e comedida nas palavras, mas... putaaa que pariuuuooo!! KKKK!
Estou esperando vc escrever os outros 98!
O pior de tudo é que eu ainda acredito no ensino-aprendizagem e adoro Paulo Freire, mesmo tendo tido aluno segurando e balançando seu horrendo "bingulim" para mim após saber sua nota. :-\
Mesmo fazendo parte dos sonhadores de plantão, eu não fecharia os olhos diante do desespero e saco cheio de um professor...
Tá cheio de textos de educação discutindo os mais variados aspectos da vida dos alunos, seus traumas e sentimentos diversos... algum professor tinha que levantar a voz e dizer como se sente, ao invés de ficar só xingando alunos na sala dos professores. :-)

1/28/2009 3:47 PM  
Blogger Adriano Comissoli said...

Puta que o pariu, é foda mesmo!!

5/28/2009 1:40 AM  
Anonymous Anônimo said...

Também estou esperando os outros 98, amei o primeiro, vc deu voz a todos os professores... como gostaria que voltassem os velhos tempos onde o professor podia usar a palmatória, a régua...

9/04/2014 3:32 PM  

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