sexta-feira, agosto 14, 2009

A noitada

A boca amarga, a cabeça parecendo um sino balançado pelo corcunda de Notredame, sinais evidentes de uma noite etílica. Até aí nada de mais pensava, porém ao abrir um pouco mais seus olhos amendoados e azuis, viu deitado ao seu lado um jovem com pouco mais de vinte anos, o dorso nu coberto da cintura para baixo com um lençol finíssimo.
Minha nossa! Pensou a mulher. O que fizera? Ela, uma mulher casada, e muito bem casada, quase uma cinqüentona (apesar do corpinho bem tratado, por horas em academia e diferentes tipos de cremes hidratantes, aparentar no máximo 35 ou 40 anos), estava ali, deitada ao lado de um imberbe, apenas de calcinha e soutieu.
Não conseguia discernir em que lugar estava, o quarto na penumbra e os olhos alcoolizados não permitiam que ela determinasse o lugar do seu pouso. Procurava lembrar a noite anterior. Divisava um bar, suas amigas, rapazes musculosos e muitas, muitas margaritas... Lembrou! Foram a um Clube de Mulheres, segunda despedida de solteira de uma amiga sua que ia se casar de novo. Aproveitou uma viagem de negócios de seu marido e aceitou o convite. Pensou: que mal haveria em acompanhar velhas amigas numa brincadeira? E afinal de contas, olhar não arranca pedaço. Mas acordar ao lado de um menino, sem saber o que havia acontecido, isso era demais para ela.
Levantou-se vagarosamente, o corpo pesava como uma âncora, tateou as paredes em busca de um banheiro, um lugar que pudesse lavar o rosto e sentir-se gente novamente. Caminhava como uma felina, não desejava acordar seu parceiro, ou seja lá o que ele fosse. Encontrou o banheiro, e lá também suas roupas. Tomou um banho rápido, vestiu-se e decidiu partir. Olhou para ver se o rapaz tinha acordado. Rezava para que não, pois não suportaria a vergonha de ter que trocar algumas poucas palavras constrangedoras. Ele ressoava de forma profunda. Achou por bem deixar uma quatro notas de R$100,00 na cabeceira. Não sabia que valor deixar, mas lhe pareceu o suficiente por uma noite de prazer e culpa, mais culpa de que prazer (ao menos ela não conseguia lembrar de nada agradável).
Desceu sem olhar ao redor e nem mesmo cumprimentar o porteiro, não queria lembrar da onde estivera, nem que lhe notassem por demais a sua presença. Tomou um táxi e partiu.
Algum tempo depois o rapaz levantou-se, olhou ao redor e não viu sua acompanhante. Vislumbrou na cabeceira os R$ 400,00. Guardou-os na carteira. Em seguida pegou o telefone e discou. Poucos toques depois uma voz feminina atende:
_ Alô.
_ Mãe? Onde você esta?
_ Filho? Bem... Mamãe ta com hora no esteticista meu amor, o que você quer?
_ Bom mãe, é que ontem a noite eu fui buscar você lá no bar, depois da festa da tia Luíza, cê sabe né? A tia Luíza me ligou dizendo que a senhora estava um pouco alta e tal, e pediu que eu fosse buscá-la. Como você não quis ir pra casa eu lhe trouxe aqui pro meu flat. Agora de manhã acordei e como não vi você fiquei preocupado.
_ (...)
_ E mãe, esses R$ 400,00 que achei aqui em casa são para pagar alguma conta?

CEVDM

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