quinta-feira, agosto 27, 2009

Carta de um macho velha guarda

Ilmo ao Senhor Presidente da Associação dos Machos da Velha Guarda, Doutor Hermenegildo Soares Leitão

Meu nome é Roberval Silva, trabalho numa mesma repartição pública há 25 anos, uso calça de tergal, camisa social, suspensório, sapato vulcabrás e tenho uma capanga onde guardo meus papéis. Gosto de tomar uma cerveja com os amigos na sexta depois do serviço, falar mal da esposa (apesar de estar junto com ela há 30 anos) e olhar os brotinhos que passam na calçada. Digo isso para ficar claro que tipo de homem eu sou. Decidi rabiscar estas mal traçadas linhas porque não podia mais continuar sem esclarecer esta que para mim é uma questão vital. Explico-me.
Não consigo entender o conceito de homem metrossexual. Juro, já tentei. Não é preconceito meu, bom, pelo menos eu vejo mais com ignorância cultural, dada a minha formação antiquada, do que propriamente preconceito.
A primeira vez que ouvi esta expressão eu achei que se tratava de um adjetivo para atores de filmes pornográficos, algo como Long Dong Silver, o “metrossexual” mais avantajado do cinema! Compreendeu? Um tipo de cara que nos constrange, homens comuns, quando entra no banheiro e se posiciona no mictório ao nosso lado. Não é que você queira olhar para aquela mangueira que ele desenrola de dentro da cueca durante vários minutos, mas ela entra dentro do campo da sua visão periférica e a única coisa a fazer, decente e masculina, é fechar os olhos, continuar a urinar e rezar para aquela anaconda sair da sua mente.
Também cheguei a pensar que metrossexual pudesse ser um tipo de gay com mais de um metro e noventa, o popular viadão, uma mistura de Isabelita dos patins com Michael Jordan.
Mas foi no Fantástico, num domingo qualquer, que assisti uma reportagem falando sobre homens que se cuidam, os tais metrossexuais. Eles fazem as unhas em manicure e passam base ao invés de roê-las, cortam o cabelo num personal hair stylist e não no barbeiro (aquele mesmo coroa que cortava o cabelo dos nossos pais quando eles eram pivetes), depilam a barba ao invés de usar a boa e velha navalha, usam perfumes mais caros que um puro cubano ao invés de pomada minancora no sovaco, entre outras idiossincrasias. Confesso, fiquei surpreso! Homens de uma geração em que barreiras e preconceitos contra as mulheres estão sendo abolidos - infelizmente, decidiram que a recíproca é verdadeira e resolveram invadir o salão de beleza e folhear revistinhas da Avon em busca da última novidade em produtos de estética masculina (ao invés de folheá-las para ver as modelos de roupa íntima, algo perfeitamente natural e até aceitável em nosso círculo).
Vejam só, não sou contra ser vaidoso, mas eu acho que o que eu entendo por vaidade é diferente, ou no mínimo ultrapassado. Não vejo nada demais num homem tomar banho, fazer a barba e passar a boa e velha loção Bozzano, cortar o cabelo, escovar os dentes, aparar as unhas do pé semanalmente, usar desodorante, estar com a roupa limpa e passada, mas passou disso para mim é extravagância. Algo que faz parte do universo feminino.
Sou o que costumam chamar de macho velha guarda – meu filho disse que eu era old scholl, falei que eu não era essa porra de pederastia coisa nenhuma. Sou daqueles que seguem a máxima “quanto menos frescura melhor”. Mas como diz a propaganda “o tempo passa, o tempo voa”, o que não rola de jeito nenhum é fazer sobrancelha, porém, quem sabe, eu disse quem sabe, eu aceite o convite da minha estimada esposa para realizar uma limpeza de pele. Aí que entra minha dúvida.
Por isso venho solicitar-lhe, através dessa missiva, que dirima minhas dúvidas quanto a esta questão: caso eu realize a tal limpeza de pele (que minha senhora garantiu ser coisa de macho, dado que a dor é incomensurável) poderei continuar associado desta excelsa instituição a qual pertenço desde a fundação ou serei sumariamente expulso?
Desde já agradeço e aguardo resposta. Amplexos,

Roberval Silva (matrícula 000003)

P.S.: membro desde 1964 quando da gloriosa revolução que expurgou os comunistas do poder.

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