quarta-feira, setembro 16, 2009

Máximas pelo mínimo

Há máximas que são dogmas, ou se não são, deveriam sê-los. Uma delas diz que futebol, política e religião não se discutem, porque se discutir vai sair briga. Posso asseverar que é a mais pura verdade.
Recordo-me de dois conhecidos meus que eram amigos de infância - haviam comido terra da mesma caixa de areia da pracinha do Leblon, enquanto as mães falavam mal dos respectivos pais – que, após terem tomado uns vinhos a mais na recepção de lançamento de um livro intitulado Intolerância: descaminhos da violência, praticamente engalfinharam-se por terem desafiado a tal máxima.
Tudo começou com um inocente “sabia que eu agora sou budista?”. Nossa, nunca imaginei que Buda, no alto de sua milenar e obesa sapiência, fosse o epicentro de uma discussão tão acalorada! _”Budista? Como assim? Tipo hare krishna?”. Bastou, como dizem por aí a chapa esquentou.
_ Não seu ignorante, budistas não são hare krisnas! Budistas são os que seguem os ensinamentos de Buda. Sabe, aquele da imagem na casa da sua mãe que fica com a bunda virada para a porta!
_ Ignorante? Ignorante é você que acredita num japonês gordo morto há 2000 anos!
_Japônes? Indiano! E quem morreu há 2000 anos foi C-R-I-S-T-O!
A coisa estava ficando feia, as pessoas começavam a se afastar com medo de serem atingidas pelos perdigotos que eram arremessados a toda velocidade. Ambos vociferavam de maneira cada vez menos elegante. Pareciam dois estranhos.
_ Cara, depois que você virou comunista e adotou este estilo torto de vida, quer me repreender pela minha opção religiosa? Pior é você, que agora vive em reuniões revolucionárias, com meia dúzia de fanáticos que se masturbam olhando o pôster da Rosa Luxemburgo!
_ Epa, olha lá como fala! Não somos fanáticos, apenas temos a convicção de que a revolução do proletário é inexorável, tal como a derrocada do capitalismo, dos EUA e do Vasco da Gama! E mais, não temos pôster da Rosa Luxemburgo, o pôster é do Proudhon, quer dizer, o pôster é dele, mas nós não nos masturbamos na frente dele, quer dizer, nós não nos masturbamos. Bem, às vezes sim, mas não na frente do Proudhon!
O circo estava pegando fogo e nem sinal dos bombeiros, na verdade o povo gosta mesmo e de ver uma picuinha virar bang-bang italiano.
_ Eu ouvi você falar do meu Vasco da Gama? Com que direito? Você é torcedor do América! Cara, desde quando vocês não ganham nem campeonato de futebol de botão de várzea?
_ Pois saiba que agora nós temos o Romário, o homem dos mil gols, esse ano a gente volta pra quarta divisão! É bom começar a tremer seu idólatra, adorador do coreano gordo, logo, logo a gente vai se enfrentar na segundona!
Quando os dois ex-amigos estavam na eminência de se bicarem até a morte naquela rinha de galo de doido, me passa o garçom oferecendo vinho. Os ânimos arrefeceram, um presságio de paz surgiu no ar.
_ É suave?
_ Sim senhor.
_ Bichona, vinho suave é pra mulherzinha, tem que tomar vinho seco.
Durou pouco o armistício.

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